Pré-Cambriano
Este super-éon teve duração de 4059 M.a, iniciando-se há 4600 M.a, com a formação da Terra, e terminando há 541 M.a. A origem do seu nome está relacionada com o facto de ser anterior ao Cambriano. Os acontecimentos mais marcantes foram o aparecimento da Lua, da água, do supercontinente Rodínia e do oxigénio, criando assim condições para que se desse o aparecimento da vida, embora o seu registo seja escasso devido a fatores como existirem essencialmente seres sem partes duras na sua constituição e/ou microscópicos. Por fim, terminou com uma era glaciar.
Paleogeografia e principais marcos
Formação da Terra e da Lua
A Terra resultou da acreção de material rochoso que orbitava o Sol. Devido à gravidade, o material rochoso foi-se agrupando levando à formação do calor interno da Terra e do próprio planeta.
O planeta recém nascido era tóxico e tão quente que não existiam superfícies sólidas, sendo assim uma esfera de magma em ebulição.
Há cerca de 4 510 M.a, o planeta Teia, de tamanho semelhante ao de Marte, chocou com a Terra a grande velocidade, causando a libertação de poeiras e material rochoso que, devido à ação da gravidade se aglomeraram, tornaram-se compactos e passaram a orbitar a Terra. Esta foi a origem da Lua.
Origem da água
Na comunidade científica não há consenso acerca da origem da água visto que esta pode ter sido formada devido a vários acontecimentos sendo que as hipóteses mais discutidas são:
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Uma grande tempestade,há 3900 M.a, de meteoros (resultantes da formação do sistema solar) que na sua constituição teriam pequenos cristais de água, que seriam libertados durante o impacto ficando presos na Terra.
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Várias colisões com cometas, que por serem constituídos por gelo e gases voláteis, trouxeram a água e formaram os oceanos ou parte significativa destes.
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Nos primeiros tempos da Terra, o vulcanismo era muito ativo e devido ao mesmo houve uma grande libertação de gases e vapor de água, que quando a Terra arrefeceu o suficiente para existir água no estado líquido, provocou a sua precipitação durante muitos anos. Este vapor de água e outros gases foram presos no interior da Terra durante a sua formação e diferenciação e o vulcanismo permitiu a sua libertação para o exterior.
A Terra passou então a ser formada por um grande oceano que cobria a crusta. Nesse oceano, surgiram à superfície vulcões que levaram mais tarde às primeiras ilhas vulcânicas.
Origem da vida e do oxigénio
Tal como a origem da água, a origem da vida não tem consenso entre a comunidade científica, o que significa que há várias hipóteses colocadas, sendo estas as mais aceites:
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Os elementos básicos da vida (aminoácidos e lipídios) teriam sido formados a partir de descargas elétrica (relâmpago) na atmosfera composta por vapor de água, metano, amoníaco e hidrogénio, resultante da atividade vulcânica. Durante milhões de anos, moléculas maiores e mais complexas foram-se desenvolvendo até formarem as unidades básicas da vida, as células.
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As moléculas orgânicas podem ter surgido em argila. Cristais minerais em argila terão organizado as moléculas orgânicas em padrões lineares. Passado algum tempo, estas começaram a ser capazes de se organizarem sozinhas.
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A vida ter-se-á desenvolvido em zonas de fontes hidrotermais, onde há uma importante diversidade química de moléculas ricas em hidrogénio e onde a temperatura é bastante quente, o que favorece as reações químicas e mais tarde o desenvolvimento dos primeiros seres, que seriam heterotróficos simples, que se alimentavam de matéria orgânica.
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O gelo poderia ter coberto os oceanos, visto que o sol era menos luminoso do que é atualmente. Assim o gelo terá protegido os componentes orgânicos, que se encontravam na água, das radiações ultravioletas e dos impactos de meteoritos e terá ajudado estas moléculas a durarem mais tempo, permitindo que as reações necessárias ocorressem.
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Uma teoria designada por Panspermia, defende que a vida terá vindo do espaço através de meteoros, que possuiam moléculas orgânicas, vindos de outros sistemas solares ou de meteoros que continham esporos “adormecidos” até encontrarem as condições favoráveis ao seu desenvolvimento.
No entanto, a vida desenvolveu-se nos oceanos e os primeiros organismos foram seres heterotróficos, que se alimentavam de matéria orgânica simples. Como eram fermentadores, para além de álcool, produziam também dióxido de carbono aumentando o nível deste gás na atmosfera. Assim, o ambiente favorecia o aparecimento de outro tipo de organismo- os seres unicelulares autótroficos que utilizavam o dióxido de carbono e a luz do sol para produzirem energia, ou seja, realizavam a fotossíntese. Devido aos seres fotossintéticos, como as cianobactérias, o nível de oxigénio na atmosfera aumentou, reunindo as condições necessárias para o aparecimento de seres eucariontes, que realizavam a respiração aeróbia, produziam dióxido de carbono e eram heterotróficos.
Origem dos continentes
Ao fim de 1500 M.a, os mecanismos de convecção,provocados pelo calor proveniente do interior da Terra resultante da formação da Terra e do decaimento radioativo de isótopos, fizeram a crusta e o manto superior dividir-se em placas, originando o supercontinente Rodinia, rodeado pelo oceano Pantalassa que mais tarde, ainda no Pré-Cambriano se dividiu em dois, abrindo o oceano Pantalássico.
Antes da divisão

Após a divisão

"Terra Bola de Neve"
Após a divisão do Rodínia, houve um aumento do vulcanismo, o que libertou maiores quantidades de dióxido de carbono, originando chuvas ácidas que foram absorvidas pelas rochas, incluindo o CO2. Por haver muitas rochas expostas, uma grande quantidade de dióxido de carbono da atmosfera foi absorvido e preso nestas. Deste modo, não havia CO2 suficiente para prender o calor do sol no planeta levando à diminuição da temperatura.
100 M.a mais tarde deu-se a primeira Era glaciar, a qual foi designada por "Terra bola de Neve", onde a temperatura do planeta diminuiu em cerca de 50 ºC, visto que a luz solar era refletida para o exterior, devido ao gelo que cobria a Terra.
A vida em ambientes aquáticos de profundidade não sofreu grande alteração, uma vez que os seres quimiossintéticos não necessitam de luz para a produção de energia e também devido à reprodução através de ovos, esporos e células dormentes que esperaram terminar o seu desenvolvimento quando as condições se tornam favoráveis.
O vulcanismo ao continuar a libertar dióxido de carbono fez aumentar a temperatura do planeta, pois as rochas cobertas de gelo não eram capaz de o absorver. Assim este funcionou como um cobertor e reteu o calor do sol por todo o planeta levando a um gradual aumento da temperatura e, ao fim de 15 M.a, ao derretimento do gelo.


Paleontologia
Estromatólitos
Resultam da atividade de cianobactérias que os produziam para se fixarem e absorverem minerais.
As cianobactérias são seres coloniais que pertencem ao reino Monera. A sua existência teve início no Pré-Cambriano e mantém-se até à atualidade, podendo ser então consideradas fósseis vivos. Estes seres realizam fotossíntese para obtenção de energia.
Estromatólitos

Cianobactérias

Filo Porifera
Filo Cnidária
A filo Cnidária também teve início no Pré-Cambriano e existem seres pertencentes à mesma ainda nos dias de hoje. Agrupam-se da mesma forma no reino Animalia, sendo um pouco mais desenvolvidos visto que se pensa terem sido os primeiros a terem cavidade digestiva, o que permitiu a ingestão de porções de alimentos maiores.
São seres maioritariamente de águas marinhas, existindo alguns de água doce e foram os primeiros animais a apresentar neurónios, apesar do sistema nervoso ser bastante simples. Como exemplos de seres vivos da atualidade que pertencem a esta filo, temos os corais e as medusas.
A filo Porifera teve inicio no Pré-Cambriano e mantém a sua existência até ao Quaternário.
Estes seres pertencem ao reino Animalia e são os a-
nimais mais simples pois não possuem órgãos internos. Para além disso, possuem poros por todo o seu corpo e alimentam-se por filtração da água.
Exemplos de alguns seres vivos da atualidade desta filo são as esponjas marinhas.


Superclasse Anthozoa
Esta classe pertence à filo Cnidária, anteriormente referida, e é constituída apenas por indivíduos na forma polipóide, isto é, seres que possuem simetria radial e cujo corpo apresenta forma tubular, com uma extremidade inferior (disco basal ou pé) fechada e fixa ao substrato, e uma extremidade superior onde se encontra a boca geralmente rodeada por tentáculos, cujo número aumenta com a idade do organismo. Estes podem viver solitários como o caso de algumas anémonas ou formar colónias, como por exemplo, as caravelas. Seres desta classe iniciaram a sua existência no Pré Cambriano e outros encontram-se ainda na atualidade.


Exemplos de rochas
Para encontrarmos rochas deste super Éon, teríamos de viajar até ao Sul e
ao Este da Índia, onde existem registos de camadas rochosas metamórficas
(gnaisse e xisto) com cerca de 4000 a 2500 M.a.

No entanto, na Baía de Hudson, no Canadá, podem ser encontradas as rochas mais antigas de sempre com cerca de 3 800 M.a a 4 280 M.a., sendo estas magmáticas e metamórficas.

Bibliografia
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